Brasileiro, Profissão: Esperança

Nossas pesquisas mostram que os brasileiros estão estressados e esgotados com a pandemia, que teimosamente se arrasta entre nós há quase 5 meses e convive, em tragédia sem paralelo no mundo, com uma monumental crise econômica. Nossa economia cresce a ritmo lento ou decresce desde 2014 e 2020 será o pior entre tantos anos ruins: as previsões são de queda do PIB de mais de 5% este ano.

À crise econômica acrescenta-se a instabilidade política e uma enorme crise de liderança: entre 11 países que pesquisamos, a pior nota dada ao governo federal na condução do combate à pandemia foi a do Brasil: 50% dos entrevistados deram nota 1 ou 2, numa escala de 1 a 10, ao Presidente e seu governo.

Face a este panorama, seria de se esperar uma visão pessimista do futuro. Entretanto, o que vimos na pesquisa é o oposto. As palavras mais escolhidas para descrever o seu próprio estado de espírito durante a pandemia foram, ambas com 39% de menções, “Esperançoso” e “Preocupado”. Em 2º lugar, com 29% de escolhas, vem “Confiante”. Nenhum outro país teve tanta gente se dizendo esperançosa (nem entre os europeus, que já estavam saindo da quarentena), como os brasileiros, que, no momento da pesquisa, viam a curva do contágio crescendo e o número de mortos se aproximando de 60 mil.

Mais do que isso; 61% dos brasileiros acreditavam que o mundo mudará após a Covid-19 e 46% diziam que ele será melhor. Estes são os índices mais altos de otimismo entre os 11 países pesquisados. Apesar de reconhecerem a crise econômica (46% diziam que a Covid acarretará crise ou desemprego), 42% dos brasileiros acreditavam que a solidariedade entre as pessoas aumentará como resultado da pandemia.

É uma profissão de fé, que tem pouco amparo nos indicadores macroeconômicos e políticos. Talvez justamente esta seja a explicação: o brasileiro já desistiu de contar com o Estado, e volta-se à sua comunidade, ao seu círculo de amigos e a entidades da sociedade civil organizada para apoio. E este não têm faltado: a mobilização solidária é a 3ª fonte de apoio na pandemia mais bem avaliada, logo após os profissionais de saúde e pesquisadores.

Pesquisa Online feita pela Perception, junto com a Engaje e a Brazil Panels entre os dias 18 e 22 de junho de 2020.

n = 4525 respondentes (Argentina = 400, Brasil = 525, Chile = 400, França = 400, Alemanha= 400, Itália= 400, México = 400, Nigéria = 400, Polônia = 410, Espanha = 400, EUA= 400) Brasil, todas as regiões, homens e mulheres, 18 anos +, NSEs ABCD. Intervalo de confiança: +/- 4,05% a 95% de confiança