Desde março de 2020, com o início da pandemia, passamos a fazer de forma massiva o que antes era apenas uma das formas possíveis de coleta de dados: contatos à distância online com nossos consumidores.
A primeira conclusão, que não é nova, mas que se tornou incontestável pelo uso constante das ferramentas online em pesquisa é a sua eficácia. Os grupos e entrevistas online mantêm intactos o envolvimento do grupo e a qualidade da troca entre as pessoas.
Os estímulos podem ser mostrados na sua versão digital; podemos reproduzir atividades de mapeamento de marcas ou produtos através de suas imagens em tela; utilizar técnicas projetivas como desenho e colagens; fazer atividades de brainstorming através de recursos de compartilhamento de telas. Ou, ainda, quando precisamos que o consumidor toque ou use um produto, o enviamos para a sua casa. Enfim, o céu é o limite.
Acrescenta-se a tudo isso um ‘efeito colateral’ muito positivo da pesquisa online: as distâncias caíram por terra. Passamos a fazer, de forma constante, grupos com pessoas em cidades diferentes.
Para os estudos com observação in loco – observações de caráter etnográfico, observações de compras – também há recursos que permitem esse olhar de testemunha à distância, tais como pedir ao consumidor que registre seus hábitos e usos através de diários feitos online, que filme atividades que nos interessam, que “printem suas telas de celular”.
Se queremos estar juntos ao consumidor em alguns momentos significativos de sua rotina – por exemplo, acompanhar a confecção de uma refeição, ver sua casa - temos feito isso também ao vivo, com o consumidor transmitindo e nos explicando como faz.
Mais um ‘efeito colateral benéfico’ da implantação maciça dos recursos tecnológicos nas pesquisas qualitativas é a ampliação do papel do consumidor ao responder pesquisas. Ele passa, cada vez mais, a ser um produtor de conteúdo, que contribui com a pesquisa de forma criativa. Com isso, envolve-se e revela-se ainda mais.
Todas essas mudanças já estavam acontecendo e eram irremediáveis, mas a pandemia acelerou tudo; desafiou-nos a pensar de forma criativa e trouxe uma verdadeira revolução às formas tradicionais de fazer pesquisa qualitativa.